quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Compatibilidade HLA


Existem algumas diferenças entre transplantes de órgãos sólidos e transplante de medula óssea. Para realização do TMO há necessidade de compatibilidade HLA absoluta entre doador e receptor. O doador neste procedimento deverá estar necessariamente vivo e as células progenitoras ou células -mãe do sangue doadas se regeneram, não acarretando nenhum dano à saúde do doador.

O doador compatível deve ser procurado em primeiro lugar, na família. Entre irmãos do mesmo pai e da mesma mãe, a chance de encontrar um irmão idêntico é de 25%. As chances serão maiores,quanto maior o número de irmãos. Quando não há doador compatível entre os irmãos ainda há chance de encontrar um doador na família . Esta chance existe principalmente em casos de casamentos consangüíneos na família e quando existem tipagens HLA mais freqüentes na família.

O grande problema é que aproximadamente 60% dos pacientes não encontram doador na família e precisam buscar um doador compatível voluntário cadastrado no registro brasileiro de doadores de medula óssea (REDOME).

compatibilidade HLA ( Antígenos Leucocitários Humanos) é verificada por testes de sorologia e/ou por biologia molecular através de uma amostra de sangue periférico, como para fazer um simples exame de sangue. As moléculas HLA estão presentes na superfície de todas nossas células nucleadas e as características genéticas ou tipagem de cada indivíduo são herdadas metade do pai e a outra metade da mãe. Essas moléculas estão relacionadas à resposta imunológica contra agentes estranhos, ou seja, é responsável pelo reconhecimento de substâncias próprias ou não ao organismo e possui papel fundamental no processo de rejeição em transplantes. 

A população brasileira é caracterizada por grande diversidade étnica e intensa miscigenação.A população brasileira formou-se a partir de três grupos étnicos básicos: o indígena, o branco e o negro. A intensa miscigenação (cruzamentos) ocorrida entre esses grupos deu origem aos numerosos mestiços ou pardos (como são chamados oficialmente), cujos tipos fundamentais são os seguintes: mulato (branco + negro), o mais numeroso; caboclo ou mameluco (branco + índio) e cafuzo (negro + índio), o menos numeroso.

Se aumentarmos o número de representantes brasileiros no registro, consequentemente haverá uma maior diversidade genética e as chances dos pacientes em encontrar um doador compatível  no banco serão maiores!Participe, saiba como se tornar um doador voluntário de medula óssea!

Fontes de células


 Fontes de células mãe/progenitoras para a realização do TMO

• Coleta da medula óssea (crista ilíaca ou bacia)

As células-tronco hematopoiéticas ou células-mãe são colhidas com agulhas especiais diretamente da região posterior da bacia, o que exige anestesia geral ou peridural para que o doador não sinta dor. O procedimento  tem duração de 60 minutos e é importante destacar que não é uma cirurgia, ou seja, não há corte, nem pontos. O doador fica em observação por um dia e pode retornar para sua casa no dia seguinte. A sensação do doador na região da nádega  permanece em média por uma semana( 2 a 14 dias). A dor é referida como a causada por uma queda  ou  uma injeção oleosa. Não fica cicatriz, apenas a marca de 3 a 5 furos de agulhas.

 Coleta de células progenitoras do sangue periférico ( por aférese)

As células são coletadas( filtradas) do sangue em circulação. As células-tronco a serem transplantadas não são encontradas normalmente na circulação sanguínea e para serem coletadas são primeiramente estimuladas a se multiplicarem na medula óssea, e migram para a circulação. Esse resultado é obtido com a injeção de proteínas chamadas de fatores de crescimento, como o fator estimulador de colônias de granulócitos, ou G-CSF. Esse fator de crescimento é administrado diariamente como uma pequena injeção subcutânea, durante 4 a 5 dias e os sintomas são semelhantes a uma gripe.

Para colher as células-tronco para o transplante, um equipamento separador de células (máquina de aférese) retira o sangue de uma veia do braço, extrai as células-tronco e a seguir devolve o sangue para o corpo do paciente. Esse processo pode exigir que o paciente fique no hospital por 4 horas em média. O procedimento não causa dor, não há necessidade de anestesia geral e as células são armazenadas até o momento do uso.

• Cordão umbilical e placentário(SCUP)

As células do sangue de cordão umbilical são ricas em células progenitoras hematopoiéticas e podem ser congeladas no momento do parto . Os bancos de sangue de cordão umbilical (BSCUP)  mantém estas células congeladas por longo tempo,  disponibilizando-as como uma fonte alternativa para os pacientes que não possuem um doador HLA compatível.

A utilização das células do cordão apresentam algumas vantagens ,pois  o risco de doença enxerto contra hospedeiro é menos agressiva devido a imaturidade celular e o tempo para encontrar um cordão compatível é menor, mas como desvantagem, a recuperação é mais lenta e o número de células no cordão é limitado, sendo viável apenas para pacientes com até 50kg.

Bancos de Sangue de Cordão Umbilical estão sendo criados em diversos países. No Brasil, o Ministério da Saúde regulamenta a operação dos bancos de sangue de cordão umbilical. As instituições vinculadas ao programa são: INCA - CEMO; Hemocentro de Ribeirão Preto - SP; UNICAMP - Campinas - SP e o Hospital Israelita Albert Einstein.

Para maiores informações, consulte os links relacionados.

Transplante de Medula Óssea (TMO)


O que é o transplante de medula óssea (TMO)?

A medula óssea é o local onde se produz o sangue. É conhecida, popularmente, como tutano do osso. É no interior dos ossos que encontramos as células mãe do sangue, ou melhor, as células que darão origem aos glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. As células que dão origem ao sangue são chamadas de células progenitoras ou células tronco hematopoéticas.

O transplante de medula óssea (TMO) é um tratamento no qual a medula do paciente é destruída com altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia. O condicionamento faz com que o sistema imunológico do paciente fique sem capacidade de reconhecer e destruir o enxerto, no caso a medula do doador. Essa medula doente será destruída substituída por células mãe do sangue sadias de um doador compatível.

O TMO é diferente da maioria dos transplantes. É uma terapia celular, o órgão transplantado não é sólido, como fígado, ou rim- são células que são levadas do doador ao receptor. Neste procedimento, o paciente (receptor) recebe o a medula óssea por meio de uma transfusão, ou seja, as células mãe ou progenitoras do sangue são colhidas do doador, colocadas em uma bolsa de "sangue" e transfundidas para o paciente. As células transfundidas circulam pelo sangue, se instalam no interior dos ossos, dentro da medula óssea do paciente. Depois de um período variável de tempo ocorre a "pega" da medula, quando as células do doador começam a se multiplicar, produzindo as células do sangue e enviando ao sangue: glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas normalmente.

O tratamento tem o objetivo de substituir a medula óssea doente, ou deficitária, por células normais de medula óssea de um doador sadio, com o objetivo de regenerar a medula do paciente.

Tipos de TMO ou transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH)

Existem três tipos de transplantes:

Autólogo: Neste tipo de transplante o paciente é seu próprio doador. Esse procedimento é indicado somente para algumas doenças. Após o paciente completar as sessões de quimioterapia, as células mãe da medula óssea são retiradas do próprio paciente, armazenadas e transfundidas após altas doses de quimioterapia (condicionamento) a fim de eliminar células doentes e reconstituir a medula óssea;

Singênico: é o transplante de medula óssea entre irmãos gêmeos idênticos; neste caso, o paciente certamente tem um doador compatível que possui características genéticas idênticas a ele;

Alogênico: as células-tronco ou células mãe do sangue são recebidas de outra pessoa; um doador selecionado por testes de compatibilidade (Compatibilidade HLA). Esse doador compatível pode ser um irmão, irmã, parentes próximos ou pode ser um doador voluntário não aparentado, cadastrado em bancos de medula óssea ou em bancos de cordão umbilical.

TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

PASSO A PASSO

Como é o transplante para o paciente?

Como ajudar e ficar atento para pequenos sinais importantes?

Podemos considerar 5 etapas importantes para a realização do TMO.

 -1º Etapa: Fase Pré-TMO:

Os serviços de transplante desenvolvem reuniões, incluindo médicos (oncologistas, hematologistas e pediatras), enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, para discussão dos casos que possuem indicação ao transplante.

Em um segundo momento, são realizadas reuniões com pacientes e familiares para esclarecer cada procedimento a ser realizado e apresentação da equipe. A família recebe orientações sobre como proceder nos períodos de permanência com o paciente e sobre a importância da colaboração deste no estímulo e auxílio nas atividades diárias.

Após receber os esclarecimentos necessários, o paciente ou responsável legal assina o termo de Consentimento Informado.

Após esse processo, a data do transplante será agendada. Para iniciar o tratamento, o paciente necessitará de um cateter venoso. Este será instalado em centro cirúrgico e será implantado por médico (a). O cateter é um acesso em uma veia de maior calibre de longa duração, através do qual o paciente receberá quimioterapia, transfusões, antibióticos, medicamentos, e principalmente, será pelo cateter que será feita a transfusão de células mãe da medula óssea do doador (transplante).

Condicionamento

É a fase que o paciente preparará o seu corpo para receber as células sadias da medula óssea (transplante). Isso é feito com altas doses de quimioterapia e em alguns casos também radioterapia e tem a finalidade de destruir todas as células imunes para que o paciente possa receber a nova medula óssea.

Durante o período de quimioterapia e radioterapia, o paciente poderá ou não apresentar alguns efeitos colaterais. Vamos citar os mais comuns e algumas orientações que poderão ajudar a evitá-los ou amenizá-los.

NÁUSEAS, VÔMITOS E PERDA DE APETITE

· Priorizar alimentos pouco temperados e se alimentar de 3 em 3 horas;

· Comunicar sempre náuseas e vômitos para que possa ser medicado, evitando ficar sem se alimentar;

· Mesmo sem apetite ou sem sentir o sabor dos alimentos é importante que você se esforce e mantenha uma boa alimentação, pois seu organismo necessitará de forças para a recuperação. Este efeito é muito comum e temporário.

MUCOSITE

São feridas que podem ocorrer em todo trato gastrintestinal, desde a boca até o ânus. Aqui vão alguns cuidados para ajudar a evitar a ocorrência de mucosite na boca e garganta que são os locais mais frequentes:

· Escovar os dentes delicadamente ao se levantar, ao se deitar e após a ingestão de qualquer alimento;

· Realizar os bochechos e gargarejos rigorosamente nos horários em com as soluções fornecidas pelo hospital;

· Manter a boca hidratada, ou seja, beba no mínimo 2 litros de água por dia.


DIARRÉIA

Diarréia pode ser considerada quando ocorrem episódios de fezes líquidas ou aumento de frequência das evacuações durante o dia.

· Comunicar a enfermagem a ocorrência de diarréia e qualquer alteração observada nas fezes como sangue ou muco;

· Utilizar comadre em caso de fezes líquidas para que possam ser avaliadas pela enfermagem;

· Após cada evacuação, não usar papel higiênico, realizar sua higiene no chuveiro ou utilizar compressa macia umedecida (não reutilizar). Isto tem a finalidade de impedir que fique resíduo de fezes na região do ânus (o que poderia causar infecção), evitar assadura e evitar ferir a pele e mucosa já tão sensíveis pela ação da quimioterapia ou radioterapia.

OBSTIPAÇÃO INTESTINAL (Mau funcionamento do intestino)

Comunicar diariamente o número de vezes que evacuar e a consistência das fezes, para o acompanhamento do seu hábito intestinal e para que sejam tomadas medidas preventivas para obstipação.

É importante evitar esta ocorrência, pois fezes endurecidas podem provocar feridas no ânus, podendo levar a sangramento e infecção, além de tornarem a evacuação bastante dolorosa.

Evitar ficar deitado por muito tempo. Procure beber bastante líquidos e andar pelo quarto, pois isso ajuda seu intestino a funcionar melhor.

ALOPÉCIA (Perda dos cabelos)

A perda de cabelos pode ocorrer no corpo inteiro ou ficar restrita a uma área. É um problema estético que não pode ser evitado, mas não deve ser supervalorizado, pois é temporário e em geral não representa nenhum risco real para o paciente.

Certamente seu cabelo cairá durante o transplante, pois é um efeito colateral do tratamento. A queda de cabelo poderá causar muito desconforto, além de ter um risco de propiciar infecção devido aos fios que entram em contato com o cateter, portanto, é necessário que você raspe o cabelo e corte suas unhas antes e iniciar o tratamento.


-2º Etapa: Dia Do Transplante: Infusão da Medula Óssea (D Zero)

Depois de se submeter ao condicionamento, o paciente recebe a medula sadia (infusão no Dia "zero", D zero) como se fosse uma transfusão de sangue através do cateter. As células progenitoras do sangue transfundidas são levadas pela corrente sanguínea e se dirigem até a medula óssea, aonde vão se instalar e começar lentamente o processo de recuperação ou "pega" medular.

A bolsa em que a medula é transportada conterá além da medula um líquido conservante que poderá causar alguns sintomas, como náuseas, vômitos, sensação de calor, desconforto na garganta, tosse seca, formigamento entre outro. Poderá haver alteração de sua pressão arterial e batimentos cardíacos, por isso será necessário que o paciente permaneça monitorado.

É um procedimento rápido, em média 2h de duração, após isto o paciente estará apto a retomar suas atividades do dia. Se as células transplantadas forem de cordão umbilical, o procedimento é realizado em 20 minutos. Algum familiar pode estar presente no momento do transplante.


Mirna Ayumi, 14 anos, paciente recebendo a medula óssea de um doador brasileiro cadastrado no REDOME.

Devido à fragilidade do paciente após o TMO, este deve ser mantido internado no hospital para receber os cuidados necessários.

Alguns cuidados especiais são realizados neste período:



  • Controle dos sinais vitais: Os controles de temperatura, pulsos, respiração e pressão arterial também serão verificados frequentemente, inclusive durante a noite.

  • Controle de líquidos recebidos e eliminados. O paciente deverá anotar todo líquido que beber e reservar a urina que eliminar em um recipiente. Esse procedimento ajuda a equipe avaliar a função renal.

  • Controle de peso: Importante para avaliar diariamente as condições nutricionais evitando a desidratação e a desnutrição do paciente.

ATENÇÃO: A colaboração do paciente é muito importante, pois condutas médicas serão tomadas com base nessas informações.

3º Etapa: Período Pós-Transplante

Essa fase conhecida como aplasia medular caracterizada pela queda do número de todas as células do sangue (leucócitos, plaquetas e hemácias).

A quimioterapia provoca a queda da produção de todas as células do sangue, não somente das células doentes. O baixo número de glóbulos brancos, principalmente os neutrófilos, predispõe às infecções bacterianas, fúngicas, virais e protozoários. Neste período o paciente fica sem capacidade de se defender das infecções, recebendo inúmeros antibióticos. É muito comum o paciente apresentar diversos episódios de febre, tremores e calafrios. Nos picos de febre, são colhidas amostras de sangue para identificar o agente que está causando a infecção. Esse procedimento serve para combater a infecção com antibiótico/antiviral ou antifúngico específico.

Durante o período em que as células transplantadas ainda não são capazes de produzir glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas em quantidade suficiente, o paciente recebe tratamento de suporte através de transfusões de glóbulos vermelhos e plaquetas, recebe medicamentos que estimulam a produção dos glóbulos brancos, importantes para defesa contra as infecções.

Esta fase é bastante crítica, pois o paciente estará sujeito a infecções e sangramentos, por isso os cuidados a seguir são extremamente importantes:

Cuidados para evitar infecções:

· Reforçar os cuidados com a Higiene

· Usar máscara quando for necessário sair da unidade de transplante (TMO);

· Limitar o número e a freqüência das visitas;

· Evitar contato direto com outras pessoas (beijos, abraços, proximidade ao falar, incluindo do acompanhante);

· Usar roupas e toalhas limpas;

· Lavar sempre as mãos: após ir ao banheiro, antes das refeições;

· Manter-se ativo, evitando ficar deitado por muito tempo, assim estará prevenindo a infecção pulmonar

· Não se coçar, não espremer espinhas

Cuidados para evitar sangramentos:

· Ter cuidado ao se movimentar para evitar quedas e ferimentos;

· Não se barbear ou depilar;

· Não retirar cutículas e não cortar unhas rentes;

· Manter-se ocupado com atividades seguras (leitura, crochê, jogos);

· Cuidados ao escovar os dentes e não utilizar fio dental;

· Não retirar peles soltas ou crostas de feridas;

· Comunicar caso ocorra menstruação, outras sangramentos ou hematomas;

· Comunicar a enfermeira qualquer alteração observada (secreções, dores, feridas, cansaço, tonturas, tremores e calafrios).

4º Etapa: "Pega Medular" ou recuperação da medula óssea e prevenção da rejeição

Denomina-se de "pega" medular, o momento após a transfusão das células da medula quando esta já consegue produzir cada célula do sangue em quantidades suficientes.

O paciente pode acompanhar e perguntar ao médico sobre como sua medula está trabalhando!

A pega medular acontece quando:

· A contagem plaquetária (número de plaquetas) alcança 20.000/mm3, sem necessidade de transfusão por dois dias seguidos,

· E quando os glóbulos brancos ficam acima de 500/mm3, também por igual período.

· É importante saber que este tempo de recuperação é variável, ou seja, não é igual para todos os pacientes! Dependendo do tipo de transplante e da fonte de célula, o prazo para recuperação se modifica. Existem também medulas mais preguiçosas e outras mais precoces! O paciente deve ter paciência e fazer sua parte!

Após a recuperação ou "pega" da medula, podem ser necessárias transfusões e uso de medicamentos na veia. Só que após a pega da medula o tratamento poderá ser feito no "Hospital dia", o paciente recebe a medicação durante o dia e vai dormir em casa.

A complicação mais frequente do transplante de medula óssea está associada a problemas de incompatibilidade é denominada Doença de Enxerto Contra Hospedeiro (DECH) ou GVHD (graft-versus-host disease do inglês), popularmente conhecida como "rejeição", na qual as células do doador transplantadas reconhecem as células do organismo do paciente como ‘estranhas' e desencadeiam uma resposta imunológica contra o organismo do paciente.

A rejeição atinge principalmente: pele, trato gastrointestinal e fígado. Essa situação acontece porque a medula óssea produz glóbulos brancos (linfócitos) treinados para defender nosso organismo dos invasores (bactérias, fungos, vírus e protozoário e têm uma função de reconhecer o que é estranho ao nosso organismo). Após o TMO, a nova medula óssea produz linfócitos (glóbulos brancos) que reconhecem o organismo do paciente como estranho, o que acarreta uma resposta imune que destrói e agride as células de alguns tecidos e órgãos do paciente.

Para evitar uma forte rejeição, são prescritos ao pacientes remédios anti - rejeição, os chamados imunossupressores. Os medicamentos imunossupressores diminuem ação das células imunes transplantadas contra o organismo do paciente.

A ocorrência da rejeição em suas formas leves e limitadas também é importante para a prevenção da recaída da doença. Possui um efeito protetor, pois agride as células doentes, levando à uma menor chance de recaída. Essa resposta é denominada efeito Enxerto X Leucemia (graft-versus-. leukemia effect- GVL no inglês).

Observação: A doença enxerto versus hospedeiro é maior, quanto maior a diferença do doador para o receptor, portanto se relaciona ao exame de compatibilidade (HLA).

No transplante autólogo não há rejeição, já que a medula transplantada é do paciente- receptor.

5º Etapa: Cuidados Após Alta

· Tomar seus medicamentos rigorosamente como prescritos pelo médico. Quando sair de casa leve os medicamentos com você para que possa tomá-los nos horários corretos;

Atenção: Se tiver dificuldades em tomar os medicamentos, não pare de tomar - comunique ao seu médico!

· Providenciar para que a casa esteja limpa antes de sua chegada; nos primeiros três meses e que de preferência você tenha um banheiro individual;

· Usar protetor solar fator 30 ou 50 em todas as partes expostas ao sol quando sair de casa, mesmo se permanecer na sombra;

· Ao caminhar, evitar horários de sol forte;

· Reduzir ao máximo o número e frequência de visitas em casa pelo menos nos dois primeiros meses após o transplante;

· Evitar locais com um fluxo grande de pessoas, por exemplo: cinemas, shows, casas noturnas, restaurantes cheios, pelo menos os 100 primeiros dias pós transplante. O importante é seguir as orientações de seu médico.

· Evitar contato com crianças pequenas, pois elas podem transmitir doenças como catapora, sarampo, caxumba, mesmo que ainda não estejam manifestando sintomas;

· Não entrar em contato com pessoas que receberam em menos de um mês vacinas contra sarampo, rubéola e Sabin ( para poliomelite), pois estas vacinas utilizam vírus atenuados que podem lhe provocar doença;

· Não manter contato com animais;

· Evite ficar acamado, procure atividades que lhe dêem prazer e que sejam seguras como: leitura, jogos, tricô, atividades de computador...

· Não entrar em contato com pessoas com febre, tosse e gripe;

· Não retirar cutículas, fazer depilação ou se barbear enquanto seu número de plaquetas estiver menor de 50.000 (informação que será dada pelo seu médico na consulta de retorno);

· Não usar absorvente interno;

· Retomar atividade sexual apenas com contagem de leucócitos e plaquetas normais.

Avise seu médico se houver:

· Temperatura corporal maior que 37,8 C;

· Tremores e /ou calafrios mesmo sem febre;

· Tosse, catarro, falta de ar;

· Diarréia;

· Enjôo e vômitos freqüentes;

· Presença de sangramento (nasal, nas fezes, urina, boca), pontos vermelhos pelo corpo;

· Presença de secreção, vermelhidão, coceira ou dor no local do cateter;

· Ocorrência de acidentes domésticos;

· Ocorrência de tonturas, fadiga, palpitações, dores persistentes ou ardor para urinar ou evacuar;

· Aparecimento de alterações na pele, como vermelhidão, descamação, coceira, bolhas e feridas.

Faça sua parte! O sucesso do seu tratamento também depende de você!

Complicações após o transplante são freqüentes e esperadas. O acompanhamento cuidadoso permite que muitas destas alterações sejam detectadas precocemente e tratadas de forma adequada.

A reintegração do transplantado à sociedade deve ser considerada tão importante quanto o acompanhamento da doença. O apoio de familiares e dos grupos multidisciplinares é fundamental para a sua recuperação como indivíduo e para a melhoria de sua qualidade de vida.






Como é feita a doação de medula óssea?


pós a confirmação da compatibilidade entre o doador e receptor e  confirmada a decisão sobre a doação , o resultado é encaminhado ao centro transplantador , e é lançada a possível data do transplante. Confirmada a data, o centro que coletará a medula do doador desencadeará a realização dos exames clínicos, laboratoriais e de imagens do doador, ou seja, a realização do work up do doador.

O potencial doador deve ser avaliado com exame físico e testes laboratorias, a fim de garantir a segurança do receptor, evitando transmissão de doenças, bem como a segurança do próprio doador.

Essa avaliação deve considerar idade, sexo, doenças crônicas, avaliação das funções hepáticas e renal, tipagem ABO e HLA, sorologias, vacinações recentes, teste de gravidez, radiografia de tórax, eletrocardiograma e avaliação psiquiátrica.

Existem duas formas de doar as células progenitoras ou células-mãe da medula óssea. Uma relacionada à coleta das células diretamente de dentro da medula óssea (nos ossos da bacia)  e a outra por filtração de células-mãe que passam pelas veias (aférese).

1) A coleta direta da medula óssea é realizada com agulha especial e seringa na região da bacia . Retira-se uma quantidade de medula (tutano do osso) equivalente à uma bolsa de sangue. Para que o doador não sinta dor, é realizada anestesia e o procedimento dura em média 60 minutos. A sensação do doador é de média intensidade e permanece em média por uma semana (2 a 14 dias), semelhante a uma queda  ou uma injeção oleosa. Não fica cicatriz, apenas a marca de 3 a 5 furos de agulhas. É importante destacar que não é uma cirurgia, ou seja, não há corte, nem pontos. O doador fica em observação por um dia e pode retornar para sua casa no dia seguinte.

2) A coleta pela veia é realizada pela máquina de aférese. O doador recebe um medicamento por 5 dias que estimula a multiplicação das células- mãe. Essas células migram da medula para as veias e são filtradas. O processo de filtração dura em média 4 horas, até que se obtenha o número adequado de células. O efeito colateral mais frequente deste procedimento é devido ao uso do medicamento ,que em alguns doadores pode dar  dor no corpo, como uma gripe.


Coleta das células progenitoras estimuladas pela máquina de aférese

É necessária a avaliação pela enfermagem do acesso venoso periférico do doador.

Os riscos para o doador são praticamente inexistentes. Até hoje não há nenhum relato de nenhum acidente grave devido a esse procedimento. No caso da punção diretamente dos ossos da bacia, os doadores de medula óssea costumam relatar um pouco de dor no local da punção.

O médico vai informar sobre qual a melhor forma de coleta de células. Dependendo da doença e da fase em que se encontra, o paciente pode se beneficiar mais com uma forma de doação.

O transplante só será realizado quando o paciente estiver pronto para recebê-lo, esta resolução cabe ao médico que está acompanhando o paciente.

O doador por possuir uma medula sadia e bom estado de saúde, reconstituirá o que doou rapidamente e poderá voltar às atividades normais. Em casos especiais e raros, como compatibilidade com outra pessoa, o doador poderá doar novamente a medula óssea.



Como me tornar um doador?


Tudo seria muito simples e fácil, se não fosse o problema da compatibilidade entre as medulas do doador e do receptor. Para a realização de um transplante de medula óssea é necessário que a compatibilidade entre o doador e receptor seja 100%. A chance de encontrar uma medula compatível no registro brasileiro é em média 1:100.000!

Mais de 60% dos pacientes não possuem doadores na família e quando não há um doador aparentado a solução para o transplante é fazer a busca deste doador compatível entre os grupos étnicos representados na população( brancos/caucasianos, mulatos, cafuzos, índios, negros, orientais) cadastrada no banco de doadores de medula óssea. As chances de acharmos  um doador não aparentado dependem do grau de miscigenação dos indivíduos na população.

Portanto, quanto maior o número de representantes brasileiros cadastrados no banco, maiores serão as chances dos pacientes que aguardam seus doadores compatíveis!Cadastre-se como um doador voluntário, esses pacientes dependem de nossa solidariedade!

PROCEDIMENTOS NECESSÁRIOS PARA SE CADASTRAR COMO DOADOR VOLUNTÁRIO DE MEDULA ÓSSEA:

Você precisa ter entre 18 e 54 anos e estar em bom estado de saúde;
Não precisa estar em jejum e nem agendar o cadastro.

  • Procure na sua cidade um hemocentro ou hemonúcleo autorizado e CADASTRE-SE  !(Veja os endereços de onde se cadastrar como doador voluntário no Brasil, clicando aqui!)

  • CADASTRO consiste no preenchimento de uma ficha de  identificação e na COLETA de um simples exame de sangue para o teste de compatibilidade (tipagem HLA);

  • Seus dados e sua tipagem HLA serão cadastrados no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME);

  • Quando aparecer um paciente com a medula compatível com a sua, você será chamado;

  • Novos testes sanguíneos serão necessários para a confirmação da compatibilidade;

  • Se a compatibilidade for confirmada, você será consultado para decidir a doação;

  • Seu atual estado de saúde será então avaliado.
Assista ao vídeo institucional da AMEO: 

Doenças auto imunes e outras doenças


Indicação de TMO para doenças auto imunes

Os pacientes portadores de doenças auto imunes, como artrite reumatóide, esclerose múltipla, lupus eritematoso sistêmico, doença de crohn, etc., não responsivas aos tratamentos imunossupressores convencionais, podem ser candidatos ao transplante autólogo como parte do protocolo de estudo. Resultados favoráveis foram descritos, e a eficácia terapêutica parece resultar não só da imunossupressão em alta dose, mas também da reformulação do controle imunológico anormal subjacente. Atualmente, estão sendo planejados trabalhos prospectivos randomizados para comparar com os tratamentos convencionais.

Indicação do TMO para tratamento de tumores sólidos

Existia um grande entusiasmo para utilização de transplante nos tumores sólidos, porém apenas um pequeno número de pacientes alcançou benefício. O uso de quimioterapia em altas doses para tratamento de câncer mamário metastático, seguido de resgate com células tronco, pode resultar numa taxa mais alta de resposta completa em relação ao tratamento convencional.No entanto, a sobrevida nesses pacientes sensíveis à quimioterapia é de apenas 10% a 25%, e nenhum benefício de sobrevida global foi ainda demonstrado. Como resultado, o TMO foi desfavorecido nesta condição.

A quimioterapia em altas doses seguida de TMO tem tido sucesso no tratamento de alguns tumores sólidos sensíveis à quimioterapia, como o câncer de células germinativas extra gonadais e tumores de infância, como neuroblastoma e tumor de Wilms.

Há relato de alta taxa de regressão de carcinoma renal metastático após TMO alogênico não- mieloblativo de células primordiais do sangue periférico, mas esse tratamento deve ser empregado apenas no contexto de protocolo de estudo.

Hemoglobinopatias


Disturbios Genéticos

Distúrbios genéticos, como a osteopetrose, a doença de Gaucher e a síndrome de Hurler, podem ser tratados com sucesso com o transplante alogênico. Outras indicações incluem as hemoglobinopatias e distúrbios sanguíneos adquiridos, como a hemoglobinúria paroxística noturna.Nesta o TMo é uma opção terapêutica para pacientes de alto risco, mas a experiência ainda é limitada. O transplante deve ser realizado antes do desenvolvimento da insuficiência secundária de órgãos.

As hemoglobinopatias ou defeitos na hemoglobina humana são as doenças genéticas mais comuns em todo o mundo. Dentre elas, a talassemia e a anemia falciforme serão descritas abaixo.

-Talassemia

A talassemia é uma doença genética do sangue de natureza hereditária (transmitida de pais para filhos). É comum em pessoas descendentes de Italianos, Gregos, Asiáticos e Africanos. Essa doença afeta a capacidade da pessoa de produzir hemoglobina. Hemoglobina é uma proteína que existe em nossas células vermelhas (hemácias) que transporta oxigênio para todas as partes do corpo.

Em geral as talassemias podem ser divididas em dois tipos principais: alfa (a) talassemia e beta (b) talassemia. Dentro de cada tipo existem três classificações: talassemia minor ou menor (ou traço), talassemia intermédiaria e talassemia major ou maior (doença).

Uma pessoa com talassemia minor ou traço talassêmico não apresenta nenhum problema de saúde, exceto uma possível pequena anemia que não corrige com o uso de ferro (não há sintomas da doença). A forma intermediária apresenta alterações que precisam ser acompanhadas regularmente por médico. A talassemia major é uma doença séria que exige constantes transfusões de sangue e cuidados médicos intensivos. A anemia é severa e inicia-se nos primeiros meses de vida, acompanhada de pele e mucosas amareladas (icterícia), deformidades ósseas e baço aumentado.

As principais formas da Talassemia chamam-se de Talassemia Alfa e Beta, de acordo com a porção da hemoglobina, não sintetizada e ausente nos glóbulos dos pacientes. A talassemia Alfa é uma forma extremamente grave que ocasiona a morte do feto ou do recém nascido. A Talassemia Beta pode variar desde uma forma muito grave até uma forma com pouco ou nenhum efeito sobre a saúde.

O diagnóstico é feito através de estudo do sangue do paciente e de seus familiares. É necessária a realização de hemograma com estudo morfológico das hemácias, a realização de Eletroforese de Hemoglobina qualitativa e quantitativa com determinação de Hb fetal e A2 e dosagem de ferro e ferritina. Existem testes que podem ser feitos durante a gravidez para determinar se um feto é portador de talassemia.

O tratamento de um paciente com Talassemia maior é realizado com o uso freqüente de transfusões de sangue. Esta terapêutica denominada de hipertransfusão é fundamental para garantir o desenvolvimento normal da criança, melhorar a sua qualidade de vida e previne os problemas cardíacos assim como os defeitos ósseos. Geralmente são feitas a cada 3-4 semanas e visam manter o hematócrito (quantifica o número de glóbulos vermelhos no sangue) próximo ao normal. O uso freqüente de transfusões leva a um acúmulo de ferro no organismo (hemossiderose) causando danos ao coração, fígado e outros órgãos. Para diminuir a concentração de fero utiliza-se um "quelador" de ferro, utilizado sob a forma injetável, diminui mas não elimina completamente as complicações do acúmulo de ferro. O uso de antibióticos tem melhorado em muito a qualidade de vida diminuindo o número de complicações por infecções.
O Transplante de medula óssea é uma forma alternativa de tratamento nestes pacientes, mas é necessário o avanço da medicina para minimizar as complicações.

A enfermidade só pode ser prevenida hoje através do aconselhamento genético pré - natal de casais portadores. Indivíduos que tem casos de Talassemia na família ou descendência européia com casos de anemia crônica ou morte peri natal na família devem procurar ajuda médica em centros especializados para realizar estudo genético e planejamento familiar.


-Falciforme


A Doença Falciforme é uma doença herdada em que os glóbulos vermelhos do sangue (hemácias), diante de certas condições, alteram sua forma e se tornam parecidos com uma foice, daí o nome falciforme.

Normalmente as hemácias têm a forma de um disco bicôncavo. Essas células são muito flexíveis e passam facilmente por pequenos vasos sangüíneos.
Desta forma elas são perfeitamente adaptadas para a entrega do oxigênio para os vasos menores e para as áreas mais remotas do corpo. Dentro de cada hemácia existem milhões de moléculas de hemoglobina (proteína formada de uma seqüência específica de aminoácidos) que realizam o transporte de oxigênio ao nosso organismo.

Na Anemia Falciforme o aminoácido ácido glutâmico é substituído por outro chamado valina. Esta substituição de aminoácidos é que causa o fenômeno de afoiçamento.

Na Doença Falciforme as hemácias contêm uma hemoglobina que é um pouco diferente da hemoglobina normal. A hemoglobina produzida é anormal e é chamada de S. Quando a pessoa recebe de um dos pais a hemoglobina A e de outro a hemoglobina S, ele é chamado de "traço falcêmico", sendo representado por AS. O portador de traço falcêmico não é doente, sendo, portanto, geralmente assintomático e só é descoberto quando é realizado um estudo familiar.

Quando uma pessoa recebe de ambos, pai e mãe, a hemoglobina S, ela nasce com Anemia Falciforme cuja representação é SS. Então os pais do paciente com Anemia Falciforme deverão ser portadores do traço ou doentes.

Os glóbulos vermelhos em forma de foice se agregam e dificultam a circulação do sangue nos pequenos vasos do corpo. Com a diminuição da circulação ocorrem lesões nos órgãos atingidos, causando crises de dor principalmente nos ossos ou articulações, no tórax, no abdômen, podendo atingir qualquer local do corpo, proveniente da obstrução de pequenos vasos pelos glóbulos vermelhos em foice. Nas crianças pequenas as crises de dor podem ocorrer nos pequenos vasos das mãos e dos pés causando inchaço, dor e vermelhidão no local.

A icterícia é um sintoma mais freqüente nesta doença. Quando o glóbulo vermelho se rompe, aparece um pigmento amarelo no sangue que se chama bilirrubina. A urina se torna de cor de coca-cola e o branco dos olhos se torna amarelo.

O afoiçamento dos glóbulos vermelhos no baço pode levar ao seqüestro do sangue, ou seja, há uma grande atividade do baço na destruição desses glóbulos vermelhos causando, palidez, dor e aumento do baço .
Outros sintomas como Úlceras de perna ocorrem, freqüentemente, próximas aos tornozelos.

Diferentes situações podem levar as células com hemoglobina S a se afoiçarem. As mais comuns são: infecção, febre, exposição a temperaturas muito baixas ou muitos altas no ambiente e desidratação. Evitando-se sempre que possível estas situações a pessoa com doença falciforme pode reduzir o risco de afoiçamento de hemácias. Quando indicado pelo médico, toma-se penicilinas para evitar-se infecções a elas sensíveis. Existem outras maneiras que ajudam a prevenir e tratar o afoiçamento e a dor, isto é, bebendo muito líquido.

O diagnóstico é feito através de testes hematológicos como o teste de afoiçamento e estudo da hemoglobina.  À medida que a população toma consciência da gravidade dessa doença e de sua alta prevalência, mais ela deverá buscar diagnóstico precoce com o teste do pezinho em recém nascidos ou o teste de afoiçamento em todas as pessoas afro – descendentes.

A doença falciforme é uma das doenças hereditárias mais comuns no Brasil. Ela afeta principalmente a etnia negra. Cerca de 1 em cada 8 afro-brasileiros tem o que é chamado de traço falcêmico.